Com o aumento da competitividade, da volatilidade nas cadeias de suprimentos e da pressão por margens mais apertadas, a gestão de custos na indústria deixou de ser uma tarefa contábil. 

Ela se tornou uma alavanca estratégica fundamental para garantir a sustentabilidade e a eficiência das operações. 

Nesse cenário, ferramentas como cost modeling e should-cost analysis surgem como diferenciais importantes — não apenas para cortar custos, mas para entender profundamente sua origem, projetar cenários e negociar com base em dados concretos.

O que é Cost Modeling?

Cost modeling é a construção de um modelo que simula os custos envolvidos na fabricação de um produto ou na entrega de um serviço. 

Ele parte da decomposição de cada etapa do processo, identificando todos os elementos de custo — como matérias-primas, mão de obra, custos indiretos, despesas gerais, logística, entre outros.

Essa técnica permite que gestores tenham uma visão detalhada de como os custos se formam, facilitando a identificação de ineficiências e oportunidades de redução de desperdícios. 

É amplamente utilizada em processos industriais com múltiplos insumos ou operações, como os setores automotivo, metalúrgico e eletrônico.

O que é Should-Cost Analysis?

Enquanto o cost modeling ajuda a entender a composição do custo, a should-cost analysis (ou “análise do custo que deveria custar”) vai um passo além: ela estima quanto um produto ou serviço deveria custar, com base em parâmetros técnicos e benchmarks de mercado. 

Essa estimativa serve como uma referência estratégica para negociações com fornecedores, definição de preços e decisões de compra.

A principal diferença para o custo real (Will Cost) é que o Should Cost atua de forma proativa, dando base para negociar com mais argumentos, justificar decisões e estruturar contratos mais vantajosos.

Origem e evolução dessas técnicas

A should-cost analysis surgiu originalmente no Departamento de Defesa dos Estados Unidos, com o objetivo de estimar preços justos para contratos complexos. Com o tempo, essas metodologias se difundiram na indústria, principalmente em setores como:

  • Automotivo
  • Aeroespacial
  • Eletroeletrônico
  • Máquinas e equipamentos
  • Manufatura avançada

Hoje, o avanço de tecnologias como Inteligência Artificial, modelagem preditiva, softwares especializados e blockchain está potencializando essas análises, tornando-as mais acessíveis, rápidas e confiáveis.

Por que sua empresa deve adotar?

Essas técnicas são aplicáveis em diversas áreas da rotina industrial:

  • Planejamento e orçamentação de novos produtos
  • Formação de preços de venda
  • Negociação estratégica com fornecedores
  • Avaliação de make-or-buy (fazer ou terceirizar)
  • Gestão de riscos financeiros e operacionais

Aplicações práticas no dia a dia industrial

Industrias que adotam Cost Modeling e Should-Cost Analysis ganham clareza sobre onde e como o dinheiro está sendo investido, além de aumentarem sua capacidade de tomar decisões estratégicas baseadas em fatos. 

Essas práticas ajudam a responder perguntas fundamentais como: “Estamos pagando o justo?”, “Esse processo vale o que custa?”, ou ainda, “Quais são os nossos verdadeiros gargalos de custo?”. 

Em mercados cada vez mais pressionados por competitividade e margens apertadas, adotar essas ferramentas pode ser o diferencial entre crescer com controle ou perder espaço para concorrentes mais eficientes.

Como sua empresa pode aplicar?

A aplicação bem-sucedida do cost modeling e do should-cost analysis exige uma abordagem estruturada, que começa com a definição precisa do objeto de análise. 

É necessário selecionar um produto, componente ou serviço que represente impacto financeiro ou estratégico relevante para a organização. 

Em seguida, inicia-se o levantamento técnico de informações, como desenhos, especificações, volumes, tempo de produção, dados de consumo e composição de custos históricos.

Com essas informações, constrói-se um modelo analítico, que pode ser feito inicialmente em planilhas ou com o apoio de softwares especializados. 

O modelo deve refletir com precisão as etapas do processo produtivo, os insumos utilizados, os custos diretos e indiretos envolvidos, e os critérios de alocação de despesas. 

Após a modelagem, realiza-se a estimativa do custo total, utilizando benchmarks e parâmetros técnicos coerentes com o contexto do negócio.

A etapa seguinte é a validação do modelo junto às áreas técnicas e de suprimentos, comparando os valores estimados com os praticados atualmente e ajustando premissas conforme necessário. 

Por fim, o modelo deve ser mantido atualizado, incorporando mudanças nos processos, variações de mercado e novos acordos contratuais. Essa atualização contínua é o que garante a relevância estratégica da ferramenta ao longo do tempo.

Passo a passo:

  1. Defina o escopo: escolha o produto, componente ou serviço a ser analisado.
  2. Levantamento de dados: colete informações sobre consumo, tempos, preços, processos e fornecedores.
  3. Construa o modelo: use planilhas ou softwares especializados para estruturar a análise.
  4. Calcule o custo total estimado: com base nos dados levantados e nas margens aplicáveis.
  5. Valide o modelo: compare com preços reais, revise premissas, envolva áreas técnicas.
  6. Atualize continuamente: novos contratos, cotações, mudanças de processo e flutuações de mercado exigem revisão constante.

Exemplo prático

Imagine uma peça mecânica usada em uma linha de montagem. A análise "Should" pode estimar que, considerando o custo dos materiais (R$ 12,00), mão de obra (R$ 3,50), logística (R$ 2,00), despesas indiretas (R$ 1,50) e margem (R$ 2,00), ela deveria custar R$ 21,00. Se o preço pago atualmente é R$ 27,00, há espaço para negociar ou buscar alternativas mais eficientes.

Dicas para negociar com base no Should-Cost

  • Use a análise como base técnica para justificar sua proposta de preço.
  • Avalie a margem do fornecedor, mas considere também qualidade e prazo.
  • Mostre que conhece os detalhes do produto — isso eleva seu poder de negociação.
  • Evite confronto: prefira a abordagem ganha-ganha, baseada em transparência.

Benefícios e desafios

Benefícios:

  • Maior controle orçamentário
  • Redução de custos sem perda de qualidade
  • Relacionamento mais profissional com fornecedores
  • Tomada de decisões baseada em dados
  • Identificação de oportunidades de melhoria interna

Desafios:

  • Requer levantamento de dados preciso
  • Pode enfrentar resistência interna em algumas áreas
  • Necessita de envolvimento técnico e entendimento do processo produtivo
  • É preciso atualizar os modelos constantemente

Conclusão

Cost Modeling e Should-Cost Analysis representam uma forma moderna e estratégica de lidar com os custos industriais. Mais do que controlar despesas, essas práticas permitem entender, projetar, negociar e otimizar — com base em dados confiáveis e decisões inteligentes.

Para quem quer começar, uma boa sugestão é montar um modelo simples em planilha para um item de alto impacto no orçamento. A partir daí, será possível perceber o potencial da metodologia.