A gestão de riscos na produção industrial é essencial para a continuidade e eficiência das operações. Interrupções causadas por falhas técnicas, problemas logísticos ou eventos naturais podem resultar em perdas significativas. 

Dados do INSS mostram que, em 2023, houve 603.825 acidentes de trabalho e 2.694 óbitos no Brasil. Além das consequências para a saúde dos trabalhadores e suas famílias, esses acidentes impactam a economia, reduzindo a produtividade. 

Em 2022, foram perdidos 17,9 milhões de dias de trabalho devido a auxílio-doença e 8,4 milhões de dias por aposentadoria por invalidez.

A Nova Indústria Brasil, uma política industrial liderada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), pretende investir R$ 300 bilhões até 2026 para melhorar a infraestrutura e promover a transformação digital, sem aumentar a carga tributária. 

Essa iniciativa visa desenvolver soluções tecnológicas, apoiar empresas na conquista de mercados globais e alcançar objetivos sociais como preservação ambiental e melhoria da mobilidade urbana.

Neste contexto, é crucial que gestores industriais adotem estratégias eficazes para identificar e mitigar riscos na produção. Com a crescente complexidade das cadeias de suprimentos e a adoção de tecnologias avançadas, é necessário complementar abordagens tradicionais de gestão de riscos com novas técnicas e ferramentas. 

Este artigo apresenta essas estratégias, mostrando como a gestão proativa de riscos pode minimizar o impacto das interrupções e transformar ameaças em oportunidades de melhoria, equipando os gestores com o conhecimento necessário para garantir a resiliência e o crescimento das operações industriais.

Quais são os riscos na produção?

Existem diversos tipos de riscos na produção industrial, incluindo os operacionais, logísticos, tecnológicos, entre outros. Os riscos operacionais estão relacionados aos processos internos da empresa, como falhas de equipamentos ou erros humanos. 

Já os riscos logísticos envolvem questões relacionadas ao transporte, armazenamento e distribuição de materiais. Os riscos tecnológicos estão associados à dependência de sistemas e tecnologias, sujeitos a falhas ou ataques cibernéticos.

Quanto às interrupções, estas podem impactar a produção e os negócios de diversas maneiras. Por exemplo, uma falha no fornecimento de matéria-prima pode paralisar linhas de produção, resultando em atrasos na entrega de produtos e perda de clientes. 

Além disso, problemas em equipamentos podem causar tempo de inatividade não planejado, afetando a eficiência operacional e gerando custos adicionais de manutenção. 

Interrupções também podem ocorrer devido a desastres naturais, como tempestades ou terremotos, que podem danificar instalações e interromper a produção por um período prolongado.

Como identificar os riscos?

Após entender os diferentes riscos na produção, o próximo passo importante é mapear os processos para encontrar os pontos críticos na cadeia produtiva. 

Isso significa olhar cuidadosamente para cada etapa, desde a entrada das matérias-primas até a entrega do produto final. 

Ferramentas como FMEA (Análise dos Modos de Falha e seus Efeitos), HAZOP (Estudo de Operabilidade de Perigos) e Análise SWOT são muito úteis nesse processo, ajudando a identificar onde podem ocorrer falhas e qual seria o impacto delas. Além disso, é essencial coletar dados e monitorar constantemente. 

Com tecnologias como IoT e sistemas de monitoramento em tempo real, as empresas podem identificar rapidamente qualquer desvio que possa indicar um risco eminente. 

Essa abordagem proativa possibilita uma resposta rápida e eficaz às ameaças, garantindo que as operações continuem sem grandes impactos de interrupções na produção.

Utilize essas ferramentas para ter mais sucesso

FMEA: O objetivo dessa ferramenta é identificar e priorizar potenciais falhas nos processos industriais, bem como avaliar os efeitos dessas falhas. Por meio da FMEA, as equipes podem antecipar problemas antes que ocorram, desenvolvendo planos de ação para mitigar ou eliminar os riscos. Um exemplo do uso da FMEA é em uma fábrica de automóveis, onde é aplicada para identificar os possíveis modos de falha em componentes críticos, como freios ou sistemas de segurança, garantindo a qualidade e a segurança dos veículos.

HAZOP: utilizada para identificar riscos de processos industriais e avaliar suas consequências operacionais e de segurança. O objetivo é examinar sistematicamente cada aspecto de um sistema ou processo para identificar possíveis desvios das condições normais de operação. Um exemplo de aplicação do HAZOP é em uma refinaria de petróleo, onde é usado para analisar os diferentes cenários de operação e identificar possíveis riscos de vazamento, explosão ou contaminação.

Análise SWOT: utilizada para analisar os pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças de uma organização ou projeto. O objetivo é entender o ambiente interno e externo da empresa, identificando áreas que precisam ser melhoradas e oportunidades que podem ser aproveitadas. Um exemplo do uso da análise SWOT na indústria é em uma empresa de manufatura, onde é aplicada para avaliar sua posição competitiva, identificar áreas de inovação e detectar possíveis ameaças, como mudanças na legislação ou flutuações de mercado.

Avaliação e priorização de riscos

A matriz de riscos nos ajuda a entender quais riscos são mais preocupantes, considerando tanto a chance de eles ocorrerem quanto o impacto que teriam se acontecessem. 

Com essa análise, podemos focar nossos esforços onde são mais necessários para manter as operações seguras e eficientes.

Vejamos:

  • Avaliação da probabilidade e do impacto:
    • olhamos para a probabilidade de cada risco acontecer e para o impacto que ele teria na empresa;
    • quanto mais provável e mais impactante, mais preocupante é o risco.
  • Cálculo do risco:
    • para calcular o risco, multiplicamos a probabilidade pelo impacto;
    • isso nos dá uma ideia clara de quão sério é o risco;
    • por exemplo, se a probabilidade é 0,7 e o impacto é 0,8, o risco é 0,7 × 0,8 = 0,56.
  • Priorização:
    • após calcular o risco para cada situação, priorizamos os riscos;
    • damos mais atenção aos que têm maior probabilidade de ocorrer e maior impacto se acontecerem;
    • isso nos ajuda a concentrar nossos recursos onde são mais necessários, garantindo que lidemos com os riscos mais críticos primeiro.

Estratégias de mitigação de riscos

Prevenção e controle são aspectos fundamentais para consolidar as etapas produtivas. Isso envolve a implementação de medidas preventivas e controles operacionais detalhados para mitigar os riscos identificados. 

As medidas preventivas podem incluir a manutenção regular de equipamentos, a implementação de procedimentos de segurança específicos e a adoção de tecnologias de monitoramento avançadas. 

Os controles operacionais, por sua vez, visam garantir que os processos sejam executados de forma segura e eficiente, com supervisão adequada e conformidade com os padrões de segurança estabelecidos.

Além disso, é essencial desenvolver um plano de continuidade de negócios robusto para lidar com interrupções inesperadas na produção. 

Esse plano deve incluir procedimentos claros e acionáveis para manter as operações em andamento, mesmo diante de eventos disruptivos, como falhas de energia, desastres naturais ou problemas de fornecimento. 

Isso pode envolver a implementação de sistemas de backup, a identificação de fornecedores alternativos e a designação de equipes de resposta a crises para lidar com emergências de forma eficaz.

A capacitação e o treinamento da equipe também desempenham um papel crucial na gestão de riscos. 

É importante preparar os funcionários para reconhecer e lidar com situações de risco de forma adequada e eficiente. Isso pode incluir treinamentos em segurança no trabalho, simulações de emergência, exercícios de evacuação e programas de conscientização sobre segurança. 

Ao investir na capacitação da equipe, as empresas podem fortalecer sua cultura de segurança e reduzir significativamente a probabilidade de ocorrência de incidentes graves.

Tecnologias de apoio na gestão 

As soluções tecnológicas representam um avanço significativo na gestão de riscos industriais, promovendo maior eficiência, segurança e transparência em todas as etapas do processo produtivo.

As indústrias 4.0 estão cada vez mais implementando em sua rotina, ferramentas como:

Automação e IA:

  • a automação refere-se à substituição de tarefas humanas por sistemas automatizados, que executam essas tarefas de forma mais rápida e eficiente.
  • a inteligência artificial (IA) é a capacidade de os sistemas computacionais aprenderem e realizarem tarefas que normalmente exigiriam inteligência humana.
  • no contexto da gestão de riscos na produção, a automação e a IA são utilizadas para detectar e responder a anomalias de forma rápida e precisa. Por exemplo, sistemas automatizados podem monitorar continuamente os processos de produção em busca de desvios de padrões ou falhas, enquanto algoritmos de IA podem analisar dados históricos para identificar padrões que indiquem a iminência de uma falha ou interrupção.

Big Data e análise preditiva:

  • Big Data refere-se ao volume massivo de dados que são coletados diariamente em diversas fontes, como sensores, redes sociais, transações comerciais, entre outros.
  • a análise preditiva é uma técnica que utiliza algoritmos e modelos estatísticos para extrair informações de grandes conjuntos de dados e prever padrões futuros ou comportamentos.
  • na gestão de riscos na produção, o Big Data e a análise preditiva são empregados para prever falhas e interrupções antes que elas ocorram. Ao analisar grandes volumes de dados históricos, é possível identificar padrões que possam indicar uma possível falha iminente em um equipamento ou em um processo de produção, permitindo que medidas preventivas sejam tomadas antes que ocorra uma interrupção significativa.

Blockchain para rastreabilidade:

  • o blockchain é uma tecnologia de registro distribuído que cria um registro público e permanente de transações, tornando-as transparentes, seguras e imutáveis.
  • na cadeia de suprimentos, o blockchain é utilizado para garantir a rastreabilidade dos produtos, permitindo que cada etapa do processo de produção seja registrada de forma transparente e segura.
  • isso ajuda a garantir a qualidade e a autenticidade dos produtos, além de facilitar a identificação e o rastreamento de problemas em caso de recall ou de qualquer outra interrupção na cadeia de suprimentos.

Como implementar um sistema de gestão de riscos?

A estruturação de um sistema eficaz de gestão de riscos requer uma abordagem meticulosa e bem planejada. 

Primeiramente, é essencial seguir uma série de passos para implementar um sistema robusto, que inclui a identificação, análise e avaliação de riscos, além do desenvolvimento e implementação de medidas de controle e mitigação. 

Em seguida, o engajamento das partes interessadas em todos os níveis da organização é crucial para o sucesso do sistema. Isso envolve desde a alta administração até os funcionários da linha de frente, garantindo que todos compreendam sua importância e contribuam ativamente para sua eficácia. 

Por fim, o monitoramento e revisão contínua do sistema são essenciais para garantir sua atualização e eficácia contínua. 

Isso envolve a realização de avaliações periódicas, revisões de desempenho e ajustes conforme necessário para garantir que o sistema permaneça relevante e eficaz diante das mudanças no ambiente operacional e nos requisitos regulatórios. 

Esses processos contínuos são fundamentais para garantir que a organização esteja sempre preparada para lidar com os desafios e riscos em constante evolução.

Considerações finais

Uma gestão de riscos eficaz traz vantagens significativas para a produção industrial, impactando positivamente sua resiliência e eficiência. 

Ao lidar proativamente com os riscos, as empresas podem reduzir interrupções, cortar custos operacionais e melhorar a confiabilidade dos processos. 

Além disso, uma boa gestão de riscos fortalece a reputação da empresa, aumenta a confiança dos clientes e garante a conformidade com regulamentos e padrões de qualidade. 

Por isso, é essencial encorajar os gestores a adotarem e adaptarem essas estratégias à realidade de suas operações específicas. 

Dessa forma, estarão mais preparados para enfrentar os desafios e prosperar em um mercado em constante evolução.